Para estudar, alunos dormem na rodovia dos Tamoios
O grupo mora em Caraguatatuba e São Sebastião e estuda em Taubaté e São José dos Campos
A duplicação da rodovia dos Tamoios, que promete aliviar a viagem de milhares de turistas, transformou num martírio a rotina de 380 estudantes universitários do litoral norte de São Paulo.
O grupo mora em Caraguatatuba e São Sebastião, no litoral, e estuda em Taubaté e São José dos Campos, no Vale do Paraíba.
Todos os dias, fazem o bate-e-volta em veículos fretados. Eles têm perdido aulas e passado a noite dentro dos ônibus, na beira da estrada, por força de bloqueios.
As medidas implantadas na nova fase das obras, iniciada em março, são necessárias para detonação de rochas, nivelamento e calçamento das pistas. Na ida, nos fins de tarde, o tempo de viagem aumentou de uma hora e meia para até quatro horas.
O principal drama da viagem é no trajeto de volta ao litoral. Caso não cheguem a determinado trecho até 0h, são obrigados a passar a madrugada parados na estrada.
Entre os km 48 e 57, a rodovia fica totalmente fechada nos dois sentidos, das 0h às 4h30, de segunda a sexta.
CORRERIA
Ao final da noite, os alunos precisam sair correndo, ainda com aulas em andamento, para evitar o bloqueio. Nem sempre conseguem.
O estudante de engenharia elétrica João Marcos, 38, teve de dormir no ônibus em frente ao bloqueio com mais 28 colegas no final de março.
"Chegamos às 0h02 e já estava fechado. Tentamos conversar, mas não teve jeito."
Juliana dos Santos, 20, que estuda administração em Taubaté, já madrugou na Tamoios mais de uma vez. Na primeira, ela diz que estava chovendo muito e o motorista teve que diminuir ainda mais a velocidade.
"Ficamos parados até às 4h35. Em Caraguá, ainda tive de pegar outro ônibus para chegar em casa. Foi só o tempo de entrar, tomar banho e ir para o trabalho."
O motorista Antonio Carlos de Mello, que conduz estudantes para universidades do Vale do Paraíba, conta que desde março já passou a noite no ônibus quatro vezes.
Ele diz que num dos trechos não há sinal de celular e os passageiros não conseguem nem avisar os familiares sobre a demora.
Os estudantes reclamam também dos prejuízos acadêmicos. A estudante de farmácia Erica Ribeiro, 28, diz que chega atrasada todos os dias e já perdeu três provas.
"Professores não podem abrir exceção. Se não entrar na sala antes do primeiro aluno terminar a prova, não posso mais fazê-la."
O coordenador da União dos Estudantes do Litoral Norte de SP, Hélio Monteiro, diz que os estudantes pedem atraso de meia hora no bloqueio. Os pedidos de mudança foram negados e ele estuda entrar na Justiça.
A Dersa diz que não há como mudar o "pare e siga" para não atrasar a obra. A entrega do trecho de planalto na rodovia é prevista para dezembro.
Para o órgão, o horário das interdições foi determinado pelo baixo volume de tráfego e que alterações afetariam o movimento pela manhã.
Folha Online
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